sexta-feira, 18 de abril de 2008

Não vou falar da Isabella, da novela ou do Romário

No meio de tudo que está vivendo, quem é você? O que está sentindo? Prazer, acho que fez uma coisa que não faz há muito tempo. Pode parecer vazio ou “sem noção”, mas, agora, não quero falar da Isabella, da novela, do Romário, do torcicolo do Lula ou dos juros que vão subir. Quero tentar lhe inspirar a pensar em você.

Em um congresso que participei no ano passado, de uma entidade de voluntariado internacional, uma palestrante nos alertou: “Estamos aficionados em fatos, e cada vez mais distantes dos sentimentos.” Contamos o que aconteceu e não expressamos o que sentimos.

Estamos ficando tão acelerados quanto os grandes sites de informação e nos esquecemos do nosso próprio umbigo. Só reduzimos quando adoecemos e lembramos que somos mortais, passageiros desta vida.

Não vou falar da pesquisa de célula-tronco, da lixeira de R$ 2.000,00, da Petrobras ou das mortes em Eldorado dos Carajás. Em abril de 2006, escrevi uma frase mais ou menos assim: “O que eu busco, na verdade, está tão próximo que às vezes não alcanço. Não alcanço, porque às vezes, estou muito distante de mim mesmo.”

Estamos muito distantes de nós mesmos e perdidos. Buscamos sentidos e mais sentidos, alucinantes e inquietantes, porque não conseguimos nos conter na serenidade e equilíbrio de um saudável ser – humano. Estamos contaminados pelo vício da informação e imediatismo, que nos arranca o sentimento e nos engana com uma razão vazia e frágil.

Num planeta com bilhões de pessoas, muita coisa acontece. Mas, e com você? O que está acontecendo? E o que está sentindo? Na sua casa? Seus amigos? Vizinhos? Quem realmente está ao seu lado? O que está fazendo por você e por eles?

A transformação começa em você. Isabella, a novela, o Romário. E você?

Foto: Campo de Formação de Voluntariado VIDES Brasil - Ponte Nova - MG.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Tantos sonhos...

Entre tantos sonhos, me perco nos meus.
Os sonhos são como projetos, pois nos projetam para algo.
Para alcançar, é importante o primeiro, o segundo e o terceiro passo.
Assim como é importante, na mesma determinação, o anti-penúltimo, o penúltimo e último passo.

Entre tantos sonhos, me encontro nos seus.
Os sonhos são como laços, pois nos envolvem e nos levam de encontro ao outro.
Para se entrelaçar e criar um nó bem feito, é importante o respeito, a confiança, a honestidade, ação e força.
Buscar-se e encontrar-se verdadeiramente, é a forma mais honesta de ir de encontro ao outro.

Entre tantos sonhos, me encontro.
Os sonhos nos constroem, nos envolvem em nós mesmos e nos projetam.
Para se encontrar... Bom, para se encontrar...
Sonhe.
Mas só não se esqueça do primeiro, segundo e o terceiro passo.

O lagarto que come o próprio rabo

O texto a seguir é uma interpretação e refexão sobre o vídeo Cristal: leitura e interpretação, também de minha autoria. O vídeo foi produzido como parte do trabalho de conclusão da matéria de Semiótica, na PUC Minas, e está disponível no Youtube.

Estudando a semiótica, discutimos os aspectos gerais sobre as significações e alguns me chamaram a atenção e me despertaram muitas idéias para a produção do vídeo Cristal: leitura e interpretação. "O pensamento não é linear, portanto, o conhecimento e a sua construção não devem ser lineares." As reflexões que farei nesse trabalho sobre o vídeo que produzi serão assim, não lineares, como a edição do vídeo e cheias de lacunas, as quais lhe permito preenchê-las.

A semiótica nos instiga sobre os diversos jeitos de olhar o mundo, que vemos, sentimos e interpretamos a partir dos sentidos. Aquilo que eu vejo no mundo não é aquilo que é o mundo, o que eu vejo é diferente do que você vê. Com essa reflexão inicio a construção de Cristal, com a intenção de navegar pela semiótica, partindo desse universo que há dentro do próprio universo, que é o universo de sentidos, de interpretações e leituras. Um universo que não é, mas se faz nas idéias e significações, em cada um.

A princípio, passo pela construção do espaço no qual pertenço, minha casa, meu bairro, meu país, meu mundo... em seguida encaminho para um outro espaço que percebo como o caos, a mistura de valores, raças, idéias, sentidos e objetivos. São Paulo, percebida e constituída pelo discurso global, capitalista, financeiro e inter-cultural. Lá me encontro em um hotel, moradia alugada e temporária, onde me percebo um ponto. Me enxergo no vidro da janela e me enxergo em São Paulo. Eu me vejo vendo a coisa que eu não quero, que eu repugno, mas me encontro nela: o caos.

Neste momento construo o real, e interpreto a partir de minha leitura o que vejo, o indeterminado, e passo a tentar determiná-lo.

No vidro da janela, me percebo, singular, verdade, absoluto e presente. Sinto a cidade, não percebida, uma experiência não pensada nem refletida. Um ponto sem dimensão.

De repente, me percebo e percebo a cidade, ela se manifesta em mim e deixa de ser apenas sentida e passa a ser vista de dentro de mim. A manifestação me desperta para uma reflexão pós-moderna e passo a entender a cidade, o movimento e o que vejo, sinto e percebo, a partir do meu repertório. São Paulo se constitui em mim e aponta para o que eu penso e compreendo.

Em seguida, me percebo em três ou mais tempos, uma foto, onde me vejo refletido, me vejo armazenado em uma tela de cristal líquido e me vejo assistindo o vídeo. Passado, presente... uma lacuna... Percebo-me em uma dimensão imaginária e ilusória em construção e reconstrução contínua, no pensar e repensar, onde signos se apresentam, se juntam a mim, se legitimam, tornando-se leis gerais e tipos, fazendo-me pensar e repensar o real, construir e reconstruir novamente, identificar e reclassificar ícones, ligar índices, estabelecer e reconfigurar símbolos, no universo que se faz em nós.

Queremos consumir o universo que se faz em nós. O universo que hiper-realizamos, constituímos, estabelecemos e configuramos está num átomo de uma bela e cara pedra de cristal, em nossos dentes, preparada para se engolida e consumida.

O universo da imagem, da publicidade, dos valores superficiais, banais, da superficialização e da "objetivação" do ser-humano, se faz numa peça, cara e atraente, de alto brilho e densidade. É o universo consumível a ser devorado pelo próprio homem que o torna e o faz, é como o lagarto que come o próprio rabo.

Ai nos vemos dentro dele, numa universidade, na luta contra o caos, na tentativa de comunicar, de se estabelecer comunicações mais eficientes e eficazes, que não permitam o caos, que institua a ordem e a qualidade total, sem ruídos. Nos percebemos numa universidade, numa comunhão científica, onde todos buscam a verdade, a compreensão do cristal, formas de se explicar a criação do cristal e o momento do fim do cristal, quando este for engolido.

E estamos todos envolvidos nesta grande dança, percebendo-nos a cada dia, em um novo dia, orientando-nos pelas idéias socializadas e estabelecidas, caminhando por desertos e florestas, seguindo ícones, verificando índices e se identificando com símbolos. Inventando jeitos de olhar o mundo...