quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Tantos sonhos...

Entre tantos sonhos, me perco nos meus.
Os sonhos são como projetos, pois nos projetam para algo.
Para alcançar, é importante o primeiro, o segundo e o terceiro passo.
Assim como é importante, na mesma determinação, o anti-penúltimo, o penúltimo e último passo.

Entre tantos sonhos, me encontro nos seus.
Os sonhos são como laços, pois nos envolvem e nos levam de encontro ao outro.
Para se entrelaçar e criar um nó bem feito, é importante o respeito, a confiança, a honestidade, ação e força.
Buscar-se e encontrar-se verdadeiramente, é a forma mais honesta de ir de encontro ao outro.

Entre tantos sonhos, me encontro.
Os sonhos nos constroem, nos envolvem em nós mesmos e nos projetam.
Para se encontrar... Bom, para se encontrar...
Sonhe.
Mas só não se esqueça do primeiro, segundo e o terceiro passo.

O lagarto que come o próprio rabo

O texto a seguir é uma interpretação e refexão sobre o vídeo Cristal: leitura e interpretação, também de minha autoria. O vídeo foi produzido como parte do trabalho de conclusão da matéria de Semiótica, na PUC Minas, e está disponível no Youtube.

Estudando a semiótica, discutimos os aspectos gerais sobre as significações e alguns me chamaram a atenção e me despertaram muitas idéias para a produção do vídeo Cristal: leitura e interpretação. "O pensamento não é linear, portanto, o conhecimento e a sua construção não devem ser lineares." As reflexões que farei nesse trabalho sobre o vídeo que produzi serão assim, não lineares, como a edição do vídeo e cheias de lacunas, as quais lhe permito preenchê-las.

A semiótica nos instiga sobre os diversos jeitos de olhar o mundo, que vemos, sentimos e interpretamos a partir dos sentidos. Aquilo que eu vejo no mundo não é aquilo que é o mundo, o que eu vejo é diferente do que você vê. Com essa reflexão inicio a construção de Cristal, com a intenção de navegar pela semiótica, partindo desse universo que há dentro do próprio universo, que é o universo de sentidos, de interpretações e leituras. Um universo que não é, mas se faz nas idéias e significações, em cada um.

A princípio, passo pela construção do espaço no qual pertenço, minha casa, meu bairro, meu país, meu mundo... em seguida encaminho para um outro espaço que percebo como o caos, a mistura de valores, raças, idéias, sentidos e objetivos. São Paulo, percebida e constituída pelo discurso global, capitalista, financeiro e inter-cultural. Lá me encontro em um hotel, moradia alugada e temporária, onde me percebo um ponto. Me enxergo no vidro da janela e me enxergo em São Paulo. Eu me vejo vendo a coisa que eu não quero, que eu repugno, mas me encontro nela: o caos.

Neste momento construo o real, e interpreto a partir de minha leitura o que vejo, o indeterminado, e passo a tentar determiná-lo.

No vidro da janela, me percebo, singular, verdade, absoluto e presente. Sinto a cidade, não percebida, uma experiência não pensada nem refletida. Um ponto sem dimensão.

De repente, me percebo e percebo a cidade, ela se manifesta em mim e deixa de ser apenas sentida e passa a ser vista de dentro de mim. A manifestação me desperta para uma reflexão pós-moderna e passo a entender a cidade, o movimento e o que vejo, sinto e percebo, a partir do meu repertório. São Paulo se constitui em mim e aponta para o que eu penso e compreendo.

Em seguida, me percebo em três ou mais tempos, uma foto, onde me vejo refletido, me vejo armazenado em uma tela de cristal líquido e me vejo assistindo o vídeo. Passado, presente... uma lacuna... Percebo-me em uma dimensão imaginária e ilusória em construção e reconstrução contínua, no pensar e repensar, onde signos se apresentam, se juntam a mim, se legitimam, tornando-se leis gerais e tipos, fazendo-me pensar e repensar o real, construir e reconstruir novamente, identificar e reclassificar ícones, ligar índices, estabelecer e reconfigurar símbolos, no universo que se faz em nós.

Queremos consumir o universo que se faz em nós. O universo que hiper-realizamos, constituímos, estabelecemos e configuramos está num átomo de uma bela e cara pedra de cristal, em nossos dentes, preparada para se engolida e consumida.

O universo da imagem, da publicidade, dos valores superficiais, banais, da superficialização e da "objetivação" do ser-humano, se faz numa peça, cara e atraente, de alto brilho e densidade. É o universo consumível a ser devorado pelo próprio homem que o torna e o faz, é como o lagarto que come o próprio rabo.

Ai nos vemos dentro dele, numa universidade, na luta contra o caos, na tentativa de comunicar, de se estabelecer comunicações mais eficientes e eficazes, que não permitam o caos, que institua a ordem e a qualidade total, sem ruídos. Nos percebemos numa universidade, numa comunhão científica, onde todos buscam a verdade, a compreensão do cristal, formas de se explicar a criação do cristal e o momento do fim do cristal, quando este for engolido.

E estamos todos envolvidos nesta grande dança, percebendo-nos a cada dia, em um novo dia, orientando-nos pelas idéias socializadas e estabelecidas, caminhando por desertos e florestas, seguindo ícones, verificando índices e se identificando com símbolos. Inventando jeitos de olhar o mundo...